quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Amores ordinários

amor depois...


Gente, a entrevista abaixo foi lida por uma das ordinárias e enviada por e-mail para validação das outras duas. Validamos porque acreditamos, sim, esse tema ainda merece muita reflexão.

A ordinária/autora é uma escritora britânica, das nossas: ama falar de amor e sexo! Segundo a postagem na Folha.comLisa Appignanesi é diretora do Freud Museum, em Londres e já escreveu sobre o conflito entre o pai da psicanálise e as ideias do feminismo. Depois, questionou o aumento no diagnóstico de doenças mentais em mulheres. 


Agora, a premiada autora de "Tristes, Loucas e Más" parte em defesa do amor ordinário. Seu último livro, "All About Love" ("Tudo sobre o amor"), aborda os prazeres de um relacionamento comum. A edição brasileira deve sair em 2013.

Leiam e comentem!!

Abaixo a entrevista na íntegra, extraída daqui!
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Folha - Por que, agora, a senhora resolveu escrever um livro sobre o amor?
Lisa Appignanesi - Quis explorar as diferentes formas de usar nosso impulso de união. É importante, hoje, repensar e reequilibrar as nossas várias ideias sobre o amor.
Como seria esse equilíbrio?
Podemos expandir a ideia de normalidade, encontrar excitação na familiaridade. Podemos pensar no amor não só em termos de tragédia, mas também como uma comédia. Dar risada junto com a pessoa amada é uma boa maneira de renovar o relacionamento. Perdemos a capacidade de perceber os prazeres do amor ordinário.
Não quer dizer que devemos ficar com a mesma pessoa a vida toda. Hoje é fácil se separar, o que é bom. Mas isso não nos ajuda a lidar melhor com a vida amorosa.
Por quê?
Porque está cada vez mais difícil criar histórias de amor que deem sentido ao nosso desejo. Em nossa cultura, pelo menos, criamos muitos obstáculos para isso.
Quais são eles?
Um obstáculo é a relação complicada entre amor e sexualidade. Ok, hoje pode não haver tanta repressão sexual, mas ainda colocamos essas duas coisas em compartimentos separados.
Ficou mais fácil ter satisfação sexual (sem amor), e mais difícil ter uma relação amorosa (com ou sem sexo).
O negócio é a pessoa encontrar a forma mais rápida de satisfazer seus desejos. O sexo é uma mercadoria mais fácil de achar do que o amor.
Outro problema é a obsessão moderna pela felicidade. Ser feliz virou uma obrigação -e o amor (como o sexo, o trabalho, a cultura) só serve se nos trouxer isso. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas não acreditam mais no "felizes para sempre". Então, trocam o eterno pelo intenso, querem algo que as deixe muito loucas, como uma droga, ou as leve a estados profundos de desespero.
Isso traz outra dificuldade, que é o ideal do amor extraordinário, fora do comum. Não temos, ou não usamos, referências do amor ordinário, que é o amor que temos na vida real, com alguns altos e baixos, mas, na maioria das vezes, com seus platôs. Não conseguimos ver nisso material para criar nossa história de amor e ficamos esperando que uma nova pessoa ou uma nova oportunidade nos traga a experiência extraordinária.
É um ideal, que nunca pode ser concretizado?
É também real, mas é só uma parte da história de amor que construímos no decorrer da vida, digamos que são alguns picos. Mas são os que queremos repetir sempre. Porque tudo começa no primeiro amor, a grande experiência da paixão que, normalmente, termina com algum grau de tragédia. É arrebatador porque é uma ruptura com a família, amamos outras pessoas que não são os nossos pais. Isso é realmente fora do comum e nos transforma. Essa experiência acaba sendo o molde do que esperamos encontrar no "verdadeiro" amor.
E também é incentivado pelos ideais do amor romântico...
E por ideais pós-modernos mesmo. Hoje, nossas fantasias não são moldadas exatamente pelo amor romântico, inalcançável, mas pela cultura do excesso. Temos tudo, queremos mais, nunca estamos satisfeitos. As pessoas não gostam de nada moderado, parece que estão perdendo algo. E não temos paciência para os hábitos do outro. Há fases em que o relacionamento é muito irritante.
E vale a pena insistir em um amor que se tornou irritante?
Não. Mas a saída não é a fantasia de que vamos achar outra pessoa que satisfaça todas as nossas expectativas. Não tenho a solução, não escrevi um livro de autoajuda, mas pesquisar sobre isso nos faz lidar melhor com a necessidade de amar e ser amado.
E as pesquisas da neurociência sobre o assunto, ajudam?
Fui criticada por não falar disso no livro, mas a a neurociência ainda tem muito pouco a dizer sobre o amor. Também não quis medicalizar o tema, não tratei do amor patológico. Deixei isso para o próximo livro, sobre os crimes da paixão.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ou dá ou desce!

- Oi
- Nossa, que cheiro bom que vem de você.
- É que cheguei agora... o perfume ainda está na validade!
- Hum... delícia.
- Isso é nome de música?
- Não, você é uma delícia!
- Ah sim... [risos]
- E então, vai me dar um beijo?
- Já?
- Sim... pra que esperar?
- Normalmente você beija uma mulher logo após conhecê-la?
- Não...
- Ah, no carnaval muda tudo?
- É, é carnaval...
- Pra mim, não. Pra mim são duas pessoas se conhecendo no carnaval.
- Ok.
- Ok?
- Vou indo.
- Tá!

Conclusão: ou beije muito ou não se afaste das palavras.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Saudades Daí


-- Moptop - Bom Par - para ouvir enquanto lê --



e eu o olhava do outro lado da bancada
e o cheiro da comida misturava fome com ansiedade
e sentava junto só pra constranger
e contava os minutos para lavar mãos juntos
e saía da sala só para fingir encontros de coincidência
e cruzamos numa entrada
e foi surpresa
e um boa noite puxa uma longa conversa
e a conversa puxa muitas risadas
e a conversa puxa
e no frio ganho um agasalho como uma promessa
e dali a espera
e valeu a pena
e os dias eram mais claros
e nas noites os sonhos eram melhores
e depois aquilo tudo
   o que eu faço com aquilo tudo?
e me sentindo uma exclamação
e eu não olhava mais a bancada
e eu não queria mais sentir o cheiro da comida
e a vida me forçava a encontrar
e eu olhava, olhava e via, via e sentia
e eu queria mudar minha mágoa de endereço
e foi tempo demais pra mim
e o tempo passa
e eu tive coragem
e falei... tudo
e tentei me controlar
e tentei mais
e atendi as ligações
e li os e-mails
e foi meu mal
e foi meu bem
e me rendi novamente
e foi melhor ainda
e gostei demais
e estou esperando pelo próximo encontro
e mesmo com tudo, mesmo com todos
   mesmo comigo
e mesmo assim, me sinto nós daí...

= para o branquinho mais gostável do sul desse país grande demais =

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Acorda, pessoa!


Depois de um período tumultuado, de muita tensão, pensei que, enfim, teria uma noite maravilhosa entre mim e meus lençóis. Quem dera.

Uma novela mexicana. Insônia das brabas. Revirei de um lado, de outro e só consegui cochilar, lá pelas tantas. Excitada, revivi as últimas horas, e na tentativa de esquecê-las, consegui desviar o foco para outra época.

Me lembrei dele, em meio às muitas lembranças quebradas. Imaginei o que estaria fazendo naquele exato momento. Certamente dormindo, roncando, dando boa noite a alguém que não sou eu e lhe beijando distraído na testa. Balancei a cabeça, querendo me livrar dessa triste imagem.

Cobri meus pés. O vento gelado me deu uma angústia. Impaciente, desliguei o ar. Fechei os olhos novamente e não consegui arrancá-lo de mim. Me senti, de novo, traída pelos pensamentos. Involuntariamente, refiz a cena mais linda: ele me olhando nos olhos e reconhecendo os meus desejos. Péssimo lembrar que isso acabou.

Ao invés de lutar contra minha memória, cedi e aproveitei o travesseiro ocioso da direita, que mais uma vez, me fez companhia, ajudando a embalar um bom sonho. Na íntegra, veja só o que eu vivenciei:

"Nós dois, num final de semana romântico! Após três horas de estrada, encontramos a praia menos visitada, cheia de coqueiros lindos, na linha verde, litoral baiano. O sol estava alto. Estendi a toalha e nos sentamos. Poucas pessoas nos faziam lembrar que não era uma ilha deserta. Mas não havia sequer vendedores ambulantes por ali. Um lugar paradisíaco. Ele estava lindo, com seu boné predileto, parecendo uma criança que se sente adulta, com manchas de protetor solar no nariz e nas costas. Corri minhas mãos pelo seu corpo, pra espalhar o produto, e me deparei com seu sorriso largo. Nada foi dito. Ficamos assim, completos, em silêncio, contemplando uma areia branquinha, uma dupla divertida [tentando acertar no frescobol], e, ao longe, o mar revolto."

E o final? Ah, volta ao título!